O paulista Marcelo Montenegro é dono de uma voz que não cabe em seus versos. Por isso, é um dos poetas na linha de frente da leitura poética – movimento oral hoje febre, mas iniciado nos anos 70, no Rio de Janeiro, pelo cinqüentão Chacal. Não se trata de sarau. Aquelas reuniões chatas, cheirando a incenso, gente sem banho e cerveja quente, e em cima disso seres emocionados lendo “puisia”.
Nada disso, aqui a emoção é a ponta de faca, vasculhando a lata de lixo.
Guardando a tralha/
Repara/
Há sempre alguém/
Guardando a tralha. Tremendo a foto. /
Aprimorando a tara.
Há um deus maluco embaralhando / as cartas. Uma banana quase preta/
Na fruteira. E o último gole/
Da cerveja em lata.
O negócio de Marcelo é observar as miudezas do cotidiano, essas coisas para as quais ninguém dá atenção. Ele recolhe dessas migalhas uma humanidade difusa, às vezes engraçada, às vezes melancólica.
De tudo talvez, permaneça / o que significa. O que/ não interessa. De tudo/ quem sabe fique aquilo/ que passa. Um gosto de aflição/ Um gosto de obturação na boca. / Uma piada / um provérbio / um buquê de presságios / Sons de gota na torneira da pia / De tudo talvez restem / bêbadas anotações / no guardanapo / E uma música que não toca no rádio.
Não é raro ver pessoas se debulhando de risos ou de lágrimas nas apresentações de Marcelo, um legítimo show de Blues.
Trechos retirados do encarte Reveal da revista Trip.
marcelomontenegro.blog.uol.com.br
Nada disso, aqui a emoção é a ponta de faca, vasculhando a lata de lixo.
Guardando a tralha/
Repara/
Há sempre alguém/
Guardando a tralha. Tremendo a foto. /
Aprimorando a tara.
Há um deus maluco embaralhando / as cartas. Uma banana quase preta/
Na fruteira. E o último gole/
Da cerveja em lata.
O negócio de Marcelo é observar as miudezas do cotidiano, essas coisas para as quais ninguém dá atenção. Ele recolhe dessas migalhas uma humanidade difusa, às vezes engraçada, às vezes melancólica.
De tudo talvez, permaneça / o que significa. O que/ não interessa. De tudo/ quem sabe fique aquilo/ que passa. Um gosto de aflição/ Um gosto de obturação na boca. / Uma piada / um provérbio / um buquê de presságios / Sons de gota na torneira da pia / De tudo talvez restem / bêbadas anotações / no guardanapo / E uma música que não toca no rádio.
Não é raro ver pessoas se debulhando de risos ou de lágrimas nas apresentações de Marcelo, um legítimo show de Blues.
Trechos retirados do encarte Reveal da revista Trip.
marcelomontenegro.blog.uol.com.br
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