Ao Sr. Clésio Salvaro, prefeito de Criciuma:
Sr. Prefeito,
A humanidade entrou, no decorrer das últimas décadas, num processo de conscientização sobre a necessidade de recuperarmos qualidade de vida. Isso se faz ver em diversos aspectos que vão desde a preocupação individual com a saúde do corpo ao interesse por meios de se atingir serenidade mental. Vai das políticas de respeito à diversidade cultural à consciência de que vivemos num planeta vivo e frágil.
Essa busca por qualidade permeia a economia e a política, e altera sutilmente nossos hábitos de consumo, nossas rotinas e nossa maneira de ver o mundo. Mais do que isso, esse fenômeno ao mesmo tempo provoca e demanda ações em todos os níveis da sociedade; público e privado, federal, estadual e municipal, comunitário e familiar.
Envolve diferentes classes de profissionais: políticos, médicos, sanitaristas, urbanistas, líderes religiosos, ecologistas, jornalistas e legisladores. Isso porque a necessidade é clara e iminente. Estamos adoecendo e precisamos cuidar, uns aos outros e assim sendo, cuidarmos do planeta.
A constante consciência desta realidade deve ser essencial ao homem público e a todo aquele que ganha o voto de confiança da sociedade, para guiar e direcionar suas ações. É isso que esperamos de nossos líderes. Creio que a esse ponto seja claro a todos os brasileiros que a função para qual elegemos nossos lideres são primordialmente as de direção e administração dos interesses comuns. A esse ponto a sociedade brasileira claramente rechaça o autoritarismo e a sobreposição do interesse de grupos ao interesse geral.
Vivemos numa cidade forte. Criciuma traz consigo uma força inerente, que vem da energia concentrada em nosso solo, do espírito empreendedor de nossos fundadores e do sangue novo daqueles que chegam cheios de vontade de somar, muitas vezes se tornando de fato, criciumenses.
Contudo nem sempre conseguimos, em nossa cidade, dar forma e direção a essa força. Isso se evidencia na nossa falta de planejamento urbano e na falta de empenho de nossos empresários em relação à obtenção do bem comum. Evidencia-se na forma como dirigimos nossos carros e cuidamos de nossos jardins.
Essas não são características únicas de Criciuma, são talvez mesmo conseqüência do tamanho de nossa vontade, de nossa força, que por vezes é maior do nós mesmos.
Acredito, porém que chegamos num ponto crucial em nosso desenvolvimento. Nunca construímos tantos prédios e nossa frota de veículos nunca foi tão reluzente. Contudo, Criciuma está feia. Não tão feia como quando o carvão cobria nossas ruas, mas certamente há um crescente descompasso entre o desenvolvimento do espaço público e o privado.
Não planejamos nossa rede de esgoto e hoje dirigimos entre o lodo e os buracos. Não plantamos árvores e não construímos vias de acesso. Não cuidamos de nossos rios. Nossas ruas não comportam nossos carros e nossas calçadas não privilegiam o pedestre. Não nos atemos a palavras que fazem parte do planejamento urbano: padrão, acesso, segurança.
Essas questões não são criciumenses. São brasileiras. Muitas de nossos problemas atuais não foram necessariamente gerados por Criciuma. Contudo, senhor prefeito, cabe a nós, cidadãos, e a você, enquanto administrador, reverter o quadro.
O que me preocupa, senhor prefeito, não são os obras, mas a forma como estão sendo conduzidas. Se os buracos são necessários, a sujeira e a má sinalização não são. Se não há dinheiro, senhor prefeito, há capital humano de sobra em nossa cidade. O que precisamos é de direção. Não queremos lideres paternalistas, e sim líderes que nos agreguem e nos sugiram um norte.
O que me preocupa mais senhor prefeito, nesse momento, e o que gerou essa carta, é ver no meio do caos que nos encontramos, o senhor, a câmara de vereadores esgotando a nossa paciência em torno de um projeto um de bar, de 110 m2, na Praça do Congresso. Ao lado de um colégio, senhor prefeito? Onde está sua cabeça?
A Praça do Congresso é um oasis numa cidade que está feia. Ela é um de nossos únicos orgulhos urbanos. Gostamos de caminhar naquele que é um dos únicos lugares onde a feiúra do nosso espaço público e a loucura de nosso trânsito nos permite admirar as casas, os prédios, a cidade. Não se trata aqui de ser contra bares e quiosques, mesmo em determinadas praças como a Nereu Ramos, que é um centro comercial. O conceito e o contexto da Praça do Congresso que não admitem essa incômoda intervenção. Não importa o que se venda ali, o espaço é público e necessário. Há suficiente comercio em nossa cidade. Há barulho demais. E há lixo demais.
Cuidemos de nossos jardins, prefeito Salvaro. Eles são essenciais à qualidade de vida tão precária em nossa cidade. Bares não são. Para que mais um bar? Construamos mais parques, plantemos mais árvores, protejamos nossas crianças e defendamos o bem comum. Acima de tudo, Sr. Clésio Salvaro, defendamos o bem comum.
Por favor, senhor prefeito, confiamos no senhor. Não nos deixe mais preocupados. Não nos deixe mais estressados.
Rodrigo Barata