Surpreendentemente, o Comitê Nobel anunciou nesta Sexta Feira que o seu anual prêmio da paz seria dado ao presidente Obama “por seus esforços extraordinários em fortalecer a diplomacia internacional e a cooperação entre os povos”.
Menos de nove meses depois de tomar posse, o comitê declarou que Obama “criou um novo clima internacional”.
Com forças Americanas no Iraque e no Afeganistão, o nome de Obama não era sequer cogitado para ser ganhador até minutos antes de o prêmio ser anunciado.
Até então o presidente do Zimbábue, Morgan Tsvangirai era o favorito, e surpresos, os correspondentes presentes durante o anúncio pressionaram o diretor do comitê, Thorbjorn Jagland, a explicar as razões pelas quais Obama prevaleceu sobre outros candidatos, que incluíam ativistas pelos direitos humanos na China e no Afeganistão.
Especificamente, um repórter sugeriu que Obama possa vir ficar atolado numa guerra no Afeganistão, como Johnson no Vietnã.
Mas o Sr. Jagland disse que o comitê queria destacar os esforços diplomáticos até agora e não antecipando eventos futuros.
Se o prêmio foi dado cedo demais na presidência Obama, o Sr. Jagland, ex primeiro ministro da Noruega respondeu: “Nós não estamos dando o prêmio pelo que pode acontecer no futuro, mas pelo foi feito no ano anterior. E nós esperamos com isso destacar o que ele vem tentando fazer.”
Entrevistado mais tarde na sala de conferência do Comitê Nobel, cercado por fotografias de laureados em anos anteriores, o Sr. Jagland disse não ser relevante a noção de que Obama ainda não foi testado.
“A questão que devemos nos perguntar é quem fez mais no ano anterior para acentuar a paz no mundo,” disse o Sr. Jagland. “E quem fez mais do que Barack Obama?”
Ele comparou a seleção de Obama com o prêmio em 1971 ao então chanceler da Alemanha Ocidental Willy Brandt por sua “Ostpolitik”, a política de reconciliação com a então Europa comunista.
“Brandt não tinha alcançado muito quando recebeu o prêmio, mas um processo começou com ele que culminou com a queda do Muro de Berlim,” disse o Sr, Jargland. “O mesmo caso foi o prêmio dado a Mikhail Gorbachev em 1990, por lançar a Perestroika.”
“Pode-se dizer que Barack Obama está tentando mudar o mundo, da mesma forma que essas duas personalidades mudaram a Europa.”
“Temos que colocar o mundo nos trilhos de novo,” ele disse. Sem se referir especificamente à era Bush, ele continuou: ”Veja o nível de confrontamento que tínhamos há apenas alguns anos atrás. Agora temos um homem que não só está disposto, mas provavelmente apto a abrir o diálogo e fortalecer as instituições internacionais.”
Ele destacou o comprometimento de Obama com o desarmamento nuclear como um dos tópicos cruciais para qualificá-lo ao prêmio.
A administração Obama está lidando com crises globais do Oriente Médio ao Irã à Ásia Menor e a Casa Branca está considerando se aumenta ou não o número de tropas no Afeganistão.
Durante a entrevista, o Sr. Jagland se negou a comentar diretamente se os EUA deveriam aumentar seu comprometimento militar no Afeganistão, mas disse que o potencial para uma situação similar ao fracasso no Vietnã é existente. “Deveríamos tentar evitar tudo aquilo,” ele disse. “Este não é somente um conflito para Obama. Diz respeito a todos nós.” Obama pediu por reduções nos arsenais nucleares e vem buscando recomeçar as conversas de paz entre Israel e a Palestina. Mas ele também enfrenta desafios com o Irã temendo que Teerã esteja desenvolvendo uma arma atômica – o que o Irã não assume.
Na conferência hoje cedo, o S. Jagland disse: “Uma das primeiras coisas que ele fez foi ir ao Cairo tentar conversar com o mundo Islâmico, e então recomeçar as negociações para depois dirigir-se ao resto do mundo através das instituições internacionais.
O presidente Obama foi o terceiro líder democrata a ganhar o prêmio em dez anos, seguindo o vice-presidente Al Gore em 2007 e o ex-presidente Carter em 2002.
O último presidente no cargo a receber o prêmio foi Woodrow Wilson em 1919. Roosevelt foi selecionado em 1906 enquanto na Casa Branca e Carter mais de 20 anos depois de deixar o cargo.
O prêmio no ano passado foi dado ao presidente da Finlândia, Martii Ahtissari, por seus esforços de paz na África e nos Bálcãs.
O prêmio vale o equivalente a US$1.4 milhão e será entregue em Oslo no dia 10 de Dezembro.
A declaração oficial diz que: “O Comitê Norueguês Nobel decidiu que o prêmio Nobel da Paz em 2009 será dado ao Presidente Barack Obama por seus esforços extraordinários em fortalecer a diplomacia e cooperação entre os povos. O Comitê deu especial importância a visão e ao trabalho de Obama por um mundo sem armas nucleares.”
“Obama tem, enquanto Presidente criado um novo clima na política internacional. A diplomacia multilateral recuperou uma posição central, com ênfase no papel que as Nações Unidas e outras instituições internacionais podem desempenhar mesmo durante os mais difíceis conflitos internacionais. A visão de um mundo livre de armas nucleares vem poderosamente estimulando o desarmamento as negociações de controle nuclear. Graças à iniciativa de Obama, os Estados Unidos estão agora desempenhando um papel mais construtivo no que diz respeito aos desafios climáticos que o mundo vem enfrentando. A democracia e os direitos humanos estão sendo fortalecidos.”
Por 108 anos, o Comitê Nobel Norueguês tem buscado estimular precisamente que a política internacional e as atitudes das quais Obama é hoje o maior porta-voz. O Comitê endossa o apelo de Obama quando diz que “agora é o momento para que assumamos nossa parte de responsabilidade ao responder os desafios globais.”
Não houve reação imediata da Casa Branca sobre o anúncio, que gerou uma recepção confusa em algumas partes do mundo.
O negociador chefe Palestino, Saeb Erekat, elogiou a premiação.
Em Gaza, contudo, um líder militar extremista do Jihad Islâmico, Khaled Al-Btash, condenou o prêmio dado a Obama, dizendo que o prêmio “mostra que essas premiações são políticas, e não são governadas por princípios de credibilidade, valores e moral.”
“Por que dar a Obama um prêmio pela paz enquanto seu país possui o maior arsenal nuclear no planeta e seus soldados continuam a derramar sangue inocente no Iraque e no Afeganistão?
É o primeiro ano do Sr. Jagland como chefe do Comitê Nobel, e ele disse que quer trazer um caráter prático à premiação.
“É certamente importante reconhecer pessoas que estejam batalhando ou que sejam idealistas, mas não podemos fazê-lo todos os anos,” ele disse. “Devemos de tempos em tempos destacar a realpolitk. É sempre uma mistura de realismo e idealismo que muda o mundo.” “O potencial é grande,” ele disse, referindo a Obama. “Mas vai depender muito em como os outros líderes irão responder. Se eles responderem negativamente, poderão dizer que ele fracassou. Mas ao menos queremos destacar a mensagem que ele tenta conduzir.”
Fonte: NY Times - Edição de 9/Outubro 2009.
Tradução: Rodrigo Barata