Somos ferramentas de nossas ferramentas, postula Neil Postman em Technopoly (wikipedia). Segundo ele, novas ferramentas alteram nossa maneira de pensar de forma a conferir a uma cultura sua noção sobre o que é razoável, o que é necessário e o que é real.
Há oito anos viemos nos familiarizando com a imagem de indivíduos conectados aos seus fones de ouvido para onde convergem veias conduzindo impulso eletrônico, encapsulando a consciência individual em sua própria paisagem. Para alguns essa visão é um desconfortante sinal de que o mundo está se tornando cada vez mais despersonalizado e desumano. Outros pensam que a privacidade de nossas consciências é agora um privilégio que beira a necessidade.
Não há como negar que desde sua inserção no começo deste século, e sua quase universal adoção pelos amantes da música, o objeto de arte em forma de tocador de mp3 fez mais do que alegrar nossas horas solitárias em aviões, trens e automóveis. Ele remodelou nossa relação com o tempo e o espaço. A razão é um fenômeno filósofos vem chamando de Podcrastinação – a suspensão voluntária de nosso engajamento com a realidade, numa versão mais sofisticada daquilo que dizem que o capitalismo nos é capaz de induzir, um estado dequase delírio
Talvez o Ipod nos permita não viver fora do capitalismo, mas dentro dele
Como diz Gina Arnolds, em "Podcrastination" ( Ipod and Philosophy ):
" Eu arriscaria dizer que não é o aparelho em si que vem servindo o propósito capitalista, mas sim sua capacidade de nos disponibilizar mídia corporativa gravada onde e quando a desejarmos."
Contudo um podcast não é meramente mais um meio de entrega de conteúdo corporativo.
O podcast é na verdade o aspecto do tocador de mp3 que o separa do walkman ou do rádio portátil que os antecederam. Aqueles aparelhos também nos permitiam abstração do barulho infernal do cotidiano, mas apenas o podcast é capaz de nos livrar da teia do continuum de tempo e espaço.
Um podcast é algo, em áudio ou vídeo, que aparece automaticamente no seu disco rígido, tanto quanto o rádio e a televisão apareciam automaticamente em seus respectivos aparelhos condutores. Mas diferente destas mídias, que distribuem somente conteúdo corporativo, os podcasts podem ser gravações feitas individualmente, uma espécie de equivalente às fitas cassete que gravávamos para dar de presente, só que muito mais facilmente distribuídas. O podcast nos permite transmitir conteúdo que nós mesmos criamos através da internet. Tudo o que precisamos fazer para acessá-lo é pesquisar e fazer o download de acordo com nossos interesses particulares.
Além disso, é algo que constantemente se renova, sendo atualizado cada vez que plugamos o nosso aparelho de mp3
Colocando de uma forma simples, podcast é o oposto de broadcast.
Para alguns isto representa uma tecnologia sem precedentes, que garante ao indivíduo mais poder e emancipação. Para estes o Ipod é quase uma bomba anarquista. Para outros, se trata de uma forma mais sutil do propósito capitalista em controlar nossos desejos e criar necessidades artificiais.
O Iphone e outros smartphones agora unem as duas tecnologias, proporcionando um grau de interatividade jamais concebido, e com implicações em nossa percepção e interação com a realidade que só o tempo nos permitirá avaliar com profundidade.
Fontes:
Pop Philosophy Podcast
Wikipedia
Prodcastination – Ipod and Philosophy - Gina Arnolds
Tradução, Compilação e Contribuição – Drigo
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