quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Admito: É mais fácil ser budista com o dos outros.


As manchetes dos jornais ao redor do mundo estampavam essa semana que Obama não recepcionaria o Dalai Lama, que está nos EUA em uma jornada que inclui palestras, cerimoniais e encontros com figuras como o senador John McCain e a porta voz da presidência Nancy Pelosi. Obama quer primeiro se encontrar com o presidente Chinês no próximo mês, e teme que um encontro com o líder tibetano nesse momento possa minar esse encontro, embora não tenha havido nenhum pronunciamento a respeito partindo do governo Chinês.

Minha primeira reação, como a de grande parte do mundo civilizado foi de indignação.

Não tem sido fácil para americanos manter a fé em Obama, um tanto porque é difícil evitar expectativas quando se está no fundo do poço, e um tanto muito maior porque as questões com que Obama tem se deparado superaram o esperado em tamanho e grau de dificuldade, desde que foi eleito.

Tive plano de saúde durante a maior parte do tempo em que vivi nos EUA. Planos que cobriram um braço quebrado, antidepressivos e inclusive tratamento dentário. Não moro mais nos EUA e honestamente o que me interessa agora é a sua política internacional e quais os rumos de sua economia, embora eu saiba que a política de previdência está diretamente relacionada à ultima questão.

Talvez por isso a minha desilusão com o Obama não se compare a de quem vive nos EUA. Talvez minha desilusão com Obama não exista. Um tanto porque minhas expectativas eram tão somente de que ele fosse um presidente melhor do que Bush. O que não foi esperar muito. Outro tanto porque a vida tem me ensinado a ser paciente, principalmente no que diz respeito a grandes mudanças. E mais do que isso, a vida tem me ensinado a não ser impulsivo em minhas conclusões. Por isso hoje eu pesquiso um pouco mais, e reflito um pouco mais.

Obama sempre defendeu o Tibete e foi além do que qualquer outro presidente americano foi ao demonstrar seu apoio ao Dalai Lama. Num recente encontro na Índia, Obama expressou esse apoio em frente ao presidente Hu Jintao.

Eu sou convicto que a Economia ou qualquer outra área jamais deva sobrepor os Direitos Humanos. Não creio que FHC tenha defendido isso numa recente palestra, quando, ao responder a uma pergunta da platéia disse que, de fato, um país pode crescer economicamente num ambiente pouco democrático. FHC simplesmente disse que isso pode acontecer, e isso não é novidade para ninguém que acompanhe um pouco de história e economia. FHC não disse, contudo que isso era uma opção por ele avalizada.

Como concordo com FHC, discordaria se a decisão estratégica da Casa Branca em relação ao líder espiritual fosse por razões tão somente econômicas. Contudo é difícil avaliar uma estratégia quando não a conhecemos. Principalmente no que diz respeito à diplomacia internacional, tão cheia de segredos e nuances.

“ Queremos ter um bom relacionamento com a China, não somente para o nosso bem” – disse Obama – “ Mas porque só assim poderemos ajudar o Tibete.”

Se para nós, a quem a política impetuosa das administrações anteriores causava indignação, o zelo diplomático da administração atual causa certa impaciência, imagino que o grau impaciência seja potencializado dentro dos EUA. Um EUA que está no centro de tantas crises e onde se é bombardeado por uma oposição irracional de uma extrema direita reacionária.

Eu não defendo Obama cegamente, embora continue acreditar no seu bom caráter. E é um tanto por isso que tenho mais paciência com ele do que tenho com o Lula. Outro tanto é porque eu hoje vivo no Brasil, e ser budista com o dos outros é realmente um pouco mais fácil.

Em tempo: O Dalai Lama obviamente aceitou a explicação de Obama e disse que espera ansiosamente por uma recepção no ano que vem.

Rodrigo Barata
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