quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Honduras é uma batata quente.


A posição de qualquer nação democrática não deve jamais ser outra senão a de rechaçar golpes de estado. Por isso foi correto o Brasil não reconhecer o governo de facto instalado em Honduras. Fora verdade que Zelaya surpreendentemente tenha aparecido às portas de nossa embaixada em Tegucigalpa, o que é pouco provável, também teria sido correta, do ponto de vista das leis que regem a diplomacia, recebê-lo e zelar por sua integridade assim como de sua família.

E o Brasil deveria parar por aí. A partir de então algumas questões devem ser consideradas:

1) Apesar de corretamente se posicionar contra os métodos antidemocráticos pelos quais Micheletti assumiu o poder, nosso governo também deveria levar em consideração que o próprio Zelaya atentava contra a constituição, mais precisamente contra a cláusula pétrea que não permite a releeição. O cardeal católico Óscar Rodrigues Maradiaga, considerado progressista no seio da Igreja, atual arcebispo de Tegulcigalpa, afirmou que o plano de Zelaya era se perpetuar no poder e instalar uma ditadura nos moldes de Hugo Chávez. Dom Rodríguez Maradiaga foi professor do presidente deposto e tinha estreitos laços de convivência com ele. Ou seja, nosso hóspede não é exatamente um democrata no sentido que o concebemos. Fato é que ele chegou a Honduras num esquema concebido por Hugo Chaves e Daniel Ortega, muito provavelmente com o conhecimento senão corroboração de Lula.

2 ) Zelaya deveria se comportar como hóspede, e não utilizar nossa embaixada como comitê político, ou pior, palanque, como tem feito.

3) Não é a melhor estratégia para um governo que busca uma saída diplomática, que seu presidente suba a tribuna das Nações Unidas e exija o retorno de Zelaya ao poder. Uma coisa é o não reconhecimento de um governo golpista. As declarações de Lula foram mais do que um passo adiante no que diz respeito à intromissão do Brasil em assuntos internos hondurenhos. O presidente a meu ver se colocou a frente do Itamaraty e prejudicou (intencionalmente, creio eu) nossos esforços diplomáticos. A resistência de Micheletti ante a falta de apoio de países distintos como os EUA e a Venezuela prova que Zelaya não é uma unanimidade dentro de seu país.

4) Embora eu não concorde a princípio com a ida de deputados à Honduras – se defendemos uma saída diplomática para a situação que nos metemos ( não nos meteram nessa não ), para isso temos um excelente corpo diplomático. Mas desconfio que a essa altura talvez precisemos do Congresso e talvez do Senado (!) para evitar que nosso presidente instale a bandeira petista em Tegucigalpa.

Lula agora se dá conta do tamanho do problema. Pede então uma reunião com Obama, pois a coisa está saindo do controle e ele não pode transparecer dentro e fora o quanto gostaria de se alinhar com os bolivarianos.

Concluo que de fato o Itamaraty, que foi preservado e respeitado mesmo durante a ditadura, está impregnado pelo petismo, e não age conforme seus princípios e talvez nem mesmo com os princípios diplomáticos mais básicos. Afinal, o primeiro passo ao irmos além de não reconhecer um governo ao ponto de não desejar relações com o mesmo, seria ter fechado a embaixada e reclamado nosso embaixador..

Será interessante ver como sairemos dessa. Os Estados Unidos já deram seu recado que essa batata quente é do Brasil. Eles já têm problemas de sobra e nós, afinal, historicamente reclamamos do unilateralismo Americano, essência do Bushismo. Resta saber se agiremos na prática conforme os princípios que retoricamente defendemos ou repetiremos os erros daqueles que nos confortamos em criticar.


Às vésperas do inicio da corrida pela presidência, pela primeira vez na história recente nossa política externa venha talvez afetar uma eleição.

Por Rodrigo Barata

Um comentário:

Albertina Rosso uma ativista. disse...

PARABÉNS RODRIGO.
Voce sintetizou com muita propriedade o acontecido,
Mas a Micletete parece muito com uma faxista.
Ainda prefiro um presidente eleito do que um golpe.

Lula realmente está numa saia muito justa. rsrsrs....
mas quer saber, nao vai dar em nada. ninguém vai gastar cartucho com dois imbecilóides.
O máximo vamos perder uma casa velha com algumas bombinhas..

Zelai certamente será candidato na proxima eleicao

EU TE ADMIRO MUITO RODRIGO B. TINAR.