quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Para entender a reunião do G-20




Há um século, Pittsburgh era o lar de uma das maiores concentrações de milionários no planeta. Seus nomes ainda ecoam com autoridade: Carnegie, Mellon, Frick, Westinghouse, Heinz e Schwab.

Nesta semana, os nomes que chegam a Pittsburgh são milionários somente no sentido que a crise global os forçou a financiar, e efetivamente comprar, algumas das maiores instituições financeiras de seus países: Obama, Brown, Sarkozy, Merkel, Hu, Hatoyama e alguns outros.

Sua principal tarefa é mensurar a Nova Grande Recessão, e, com mais barulho do que autoridade talvez, nos garantir que estamos finalmente a superando. Esperem que proclamem estar exercendo vigilância cerrada sobre sistema financeiro a fim de evitar uma nova crise. Nicolas Sarkozy, o presidente Francês, recentemente foi suficientemente cordial ao dizer que “mesmo os Ingleses” reconhecem a necessidade de reforma.

O ceticismo é a ordem do dia, e nada demais se espera que seja formalmente decidido. Mas ao contrario de muitas destas confabulações internacionais, este encontro pode ser importante para que tanto o presidente Obama quanto seus colegas movam a discussão em direção a alguns ajustes necessários na economia global. Uma pequena revisão antes:

Cerca de 40 líderes estão se encontrando na confluência dos rios Monongahela, Allegheny e Ohio sob o auspicioso nome de Grupo dos Vinte – G-20 para abreviar. A primeira coisa a se notar é que os números não coincidem. Esta é uma festa onde os vinte principais organizadores não querem que alguns colegas se sintam mal ou deixados de fora. A lista de convidados cresce continuamente.

Porque Pittsburgh?

O presidente Obama, que escolheu o local, diz que é porque Pittsburgh “se transformou da capital do aço em um centro de inovação tecnológica – incluindo a tecnologia verde, educação, pesquisa e desenvolvimento.”

Poderia também ser que a Pennsylvania seja crucial para as campanhas presidenciais americanas, e seus canais de mídia se estendem até Ohio, entre os estados “importantes” o que mais luta para se recuperar da crise econômica.

Aqui estão as cinco maiores questões a se observar:

1) A administração Obama deixou vazar os contornos de sua proposta para o encontro para aprovar uma agenda de “crescimento sustentável e equilibrado” ao sair da recessão. O que isso significa para os EUA é dizer para a China, Japão, Alemanha e outros grandes exportadores para não esperarem que os Americanos esbanjem seus dólares comprando produtos importados, como fizeram na última década. Até certo ponto essa questão é catalisa o esforço dos Estados Unidos em persuadir a China a se transformar de uma economia voltada à exportação para uma economia voltada ao consumo, para permitir a sua moeda valorizar e não focar tanto em inundar outros países com seus produtos baratos, provocando a ira do congresso e dos sindicatos Americanos. Um segundo aspecto da estratégia de crescimento é que ela sinalizará a intenção dos maiores poderes econômicos em engajar numa “política de fuga” da atual onda de intervenção estatal que objetivou evitar um colapso ainda maior da economia. Mas não se espera muitos detalhes acerca de quando os Estados Unidos irão elevar a taxa de juros, cortar gastos públicos ou reprivatizar o seu sistema bancário.

2) Quanto a China, o comércio será a grande e talvez controversa questão, porque os Chineses ainda estão furiosos com a recente imposição de tarifas, por parte do governo Obama nos pneus Chineses – e a ameaça implícita de que tais tarifas sejam entendidas a outros produtos como o aço, o cimento, alumínio, papel e outros produtos caso a China não permita a desvalorização de sua moeda em relação ao dólar. Obama tem ainda que convencer os poderes econômicos globais que na verdade é a favor do livre comércio ao mesmo tempo em que tem que convencer a indústria americana de que é a favor dos interesses de seu país. Note a pressão sobre ele em Pittsburgh e analise como ele responde.

3) O aquecimento global é uma outra grande questão, à apenas alguns meses da grande conferência das Nações Unidas sobre o assunto em Copenhagen. Os Europeus estão preocupados com a vagarosidade com que os EUA estão legislando sobre o comércio internacional de emissões, enquanto o congresso se dilacera sobre a questão da saúde. Também estão desanimados com o fato que a legislação Americana tende a incluir um pacote protecionista que venha a ajudar os EUA a competir com os produtos Chineses e Indianos, caso esses dois países não assinem o tratado. Os líderes mundiais também têm que tranqüilizar os países pobres que eles irão receber financiamento e assistência por serem economias de “baixa emissão”.

4) Uma brecha profunda se abriu entre os Europeus e os Americanos acerca da regulamentação financeira e será interessante assistir como eles lidarão com essa questão. Os Europeus querem limites restritos na compensação (bônus) dos executivos. A administração Obama está resistindo e diz que o problema é que instituições “grandes demais para falir” precisam ser resgatadas. A solução Obama: regular os montantes mínimos de capital que cada banco deverá que ter em relação ao que deve. Mas a abordagem da administração é vista, mesmo pelo congresso como “morna” ao passo que Wall Street retorna aos seus velhos truques e manobras. Tendo em vista que o mundo culpa os Estados Unidos por começarem a crise, é de se esperar reclamações dos outros participantes.

5) A questão mais sensível a vários participantes, mas não tanto para o cidadão comum, é a futura arquitetura financeira global. Deverá o G-20 se tornar um comitê permanente para a economia do planeta, substituindo o G-8? Deverão ser dadas novas responsabilidades ao Banco Mundial e ao FMI e maior governança a países emergentes como a China, Índia e Brasil? Deverão se reunir com maior ou menor freqüência? Nunca de novo em Pittsburgh? Pode haver alguns sinais de progresso nessas questões e alguma retórica será exercida para agradar os novos entrantes no cenário global. Mas certamente a questão real é se alguns desses grupos jamais terão qualquer poder ou capacidade de fazer algo acerca da economia global, mais do que reajustar os assentos e mesas das instituições financeiras que fracassaram em antever a crise.

Será definitivamente interessante ver Obama mostrar os cenários e os sons de Pittsburgh – que, verdade seja dita, é uma cidade de muitos charmes e muita história. Mas é pouco provável que sirva mais do que uma diversão de três rios da enchente de problemas que o acometem em casa, do sistema de saúde ao Afeganistão à economia. Meu sentimento é que nas questões acima, alguns sinais podem ser enviados para resolver os problemas em fóruns futuros. Por enquanto, os líderes mundiais estão sem dúvida aguardando que Obama finalmente emirja como um líder de estatura real, mais do que um guia turístico de uma cidade de aço com um grande passado e um futuro incerto.

Steven R. Weisman, chefe editorial e membro do Peterson Institute for International Economics, teve vários papéis no New York Times, incluindo correspondente de economia internacional, correspondente de assuntos diplomáticos e correspondente sênior da Casa Branca,

Fonte: The Daily Beast www.thedailybeast.com

Tradução: Rodrigo Barata

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