terça-feira, 25 de novembro de 2008

People We Like - Jimmy Tamborello


Por Thomas Stanton



Dias atrás eu estava escutando Postal Service na rádio e comecei a pensar sobre como a indústria musical é hoje um monstro completamente diferente do que era há 10 ou 20 anos. Uma vez a inimiga principal da criatividade humana, a indústria parece ter aparentemente ampliado o conceito do que é considerado lucrativo, subsequentemente criando interesse geral (financeiro ou não) em diferentes gêneros e subculturas musicais.

Para colocar de forma simples, quando rebanhos daquilo que a indústria chama de “consumidores inativos” (gente que costuma definir seu gosto musical pela inspirada asserção “eu ouço um pouco de tudo”) vêem ou ouvem um vídeo ou música do Postal Service, do White Stripes ou do Yeah Yeah Yeahs atiradas na superficial rotação musical do mainstream, elas desencadeiam uma estranha seqüência de eventos. O presidente cinqüentão da grande gravadora começa a perguntar ao seu filho de quinze anos qual ele acha que vai ser o próximo big hit; o rebanho daquilo que indústria costuma chamar de “consumidores ativos” (gente que por outro lado é excessivamente ambiciosa tipo “eu não escuto nada que não seja hip hop lituano lado b”) que já estão ouvindo White Stripes e Yeah Yeah Yeahs se ofendem e começam a chamar essas bandas de vendidas, só para cavarem ainda mais no underground por algo ainda mais idiossincrático ou arcaico. Os selos menores, por sua vez começam a gerar mais hype e passam a fazer algum dinheiro, e ao mesmo tempo, algum impacto no mainstream. O conceito de cool começa a mudar sutilmente. Não se trata de uma grande mudança, é muito menos um movimento musical do que seria o equivalente a uma mudança de vento, da cor do mar ou mesmo da maré (nos casos mais previsíveis).

Eu escuto o Postal Service tocar num trailer de um filme. Eu abro um número incontável de revistas e me dou conta que eu sou apenas um ponto na galáxia de pessoas minerando o underground musical.

Este cenário é de certa forma otimista, e é especificamente interessante para a figura do produtor musical. Com produtores - “gênios musicais”, o cara por trás dos caras – não há necessidade de consultoria de imagem, ou coreografias estilizadas. Produtores são o foco do “som” de uma banda.”, mas em termos de visibilidade individual, estão geralmente fora de foco. Deixe-me ser mais claro. O produtor é o cérebro do corpo musical, e apesar de geralmente estar (ou ser) escondido atrás do palco, ele vira dolorosamente óbvio quando um álbum não possui uma produção criativa.

Aqui entra Jimmy Tamborello, o cérebro por trás do Postal Service, Dntel, Figurine, Headset, e o cara perfeito com o qual se pode ficar otimista sobre a indústria musical. “Eu não recebo muita influência ou pressão das rádios mainstream, a meu ver elas estão um pouco estagnadas”. A popularidade do Postal Service é a correspondência musical (daí o nome) de Tamborello com o vocalista do Death Cab for Cutie, Ben Gibbard.

As paisagens electro-pop de Tamborello servem de pano de fundo para o murmuro de Gibbard, enquanto Dntel é a jornada de Tamborello rumo a experimentação poética. Figurine é uma sacada inteligente do synch-pop dos anos 80 e Headset é uma colaboração hip hop com Allan Avanessian, fundador e produtor do Plug Research. É, portanto desnecessário discorrer sobre a versatilidade e criatividade de Jimmy Tamborello.

O bravo duelo com o monstro que é a ideologia mainstream talvez vá jamais chegar às vias de fato: há dinheiro demais nas mãos de gente sem inspiração e muita independência e criatividade nas mentes de gente como Jimmy Tamborello. Só se espera que caras como ele continuem a injetar no mainstream doses periódicas de verdadeira ingenuidade. ”Meu processo artístico é aleatório”- diz ele, “Começa com um pequeno acidente e então vai se construindo pouco a pouco a partir daí.”. Oremos então por mais acidentes.

Texto: Thomas Stanton
Revista Fugue ( pronuciada Fiug ) aparentemente extinta - não confundir com a Fugues Mag.

Tradução adaptada – Drigo
www.jimmytamborello.com

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